sábado, 19 de novembro de 2011

CABELOS BRANCOS

A reta final no percurso do ano já aponta bem à vista de todos. Por isso, é comum as pessoas se espantarem. De maneira natural ou apenas para emendar conversas de pouco assunto, multiplicam-se os comentários: “Nossa! Natal, de novo! O ano passou que a gente nem viu!”. Por aí seguem as manifestações atestando a velocidade acelerada do tempo, que muitos julgam aumentar na mesma proporção da influência dos avanços da modernidade na vida cotidiana.
Fonte: imagesCA1SPQN3
Na esfera pessoal, nem sempre se admite os efeitos da acumulação dos calendários. É mais fácil constatar a passagem do tempo para os outros. Quando a avaliação volta-se para si mesmo, a tendência é iludir-se com a máscara da intocável juventude. Até uma pessoa de idade avançada, se observarmos bem, procura reforçar seus traços na tentativa de enfraquecer as marcas dos muitos aniversários comemorados, ao mesmo tempo em que se queixa das limitações impostas pela última fase da vida.
No entanto, há situações em que é impossível ignorar a mudança no próprio perfil. Numa manhã dessas, em frente ao espelho, fiquei imobilizado por alguns segundos, quando dois fios de cabelos brancos me disseram bom-dia! Não tinha percebido ou até então não queria notar, mas naquele momento eles foram mais fortes. Irromperam entre a ainda numerosa população de cabelos pretos, para exclamar sem reservas: “estamos chegando! Logo seremos a maioria!”.
Outro dia fui levar minha filha para prestar vestibular. Fiquei observando-a até desaparecer na imensa nuvem de jovens ansiosos por uma vaga na universidade. Rapidamente, revivi a caminhada de vestibulando, estudante e, agora, pai. A constatação de que a esteira do tempo não para foi maior quando fui arrancar o carro e dei passagem para um senhor, que desfilava vasta cabeleira branca de avô no meio estudantil.
Fonte: imagesCAN3NT30
Sorri despreocupado. A constante mudança em tudo torna os nossos dias mais interessantes. O compromisso certo de entregarmos às próximas gerações o resultado dos fracassos e conquistas contabilizados ao longo da vida converte-se na garantia da continuidade dos nossos passos, mesmo quando os pés já estiverem para sempre imobilizados.

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