quarta-feira, 28 de março de 2012

EMBAIXADOR DAS RUAS


Fonte: tramavirtual.uol.com.br
                           Dia desses, assisti no Programa Conexão Repórter a entrevista do Rapper Emicida. A reportagem resgatou a trajetória do cantor, das suas origens humildes aos dias atuais marcados pela fama. Uma história de superação semelhante a tantas outras com o mesmo enredo: a conquista de um lugar ao sol no concorrido universo das celebridades, por pessoas nascidas em berços totalmente excluídos do brilho fácil do sucesso.        

A inspiração veio do sofrimento imposto pela miséria. A pobreza, as discriminações, a marginalização, o racismo, entre outros componentes da desigualdade social, transformaram-se em matéria prima para a reconstrução artística da realidade. O mundo da favela iluminou-se pelas rimas de protesto e de denúncia. Uma voz se elevou para cantar as dores da periferia, retrato sem retoque do submundo dos despossuídos.

Em pouco tempo, o desconforto da vida virou arte. A música espalhou-se a partir da internet, transformou-se em mensagem clara, reivindicando respeito, tendo como lema central o intrigante grito “a rua é nóis”. O talento do menino negro, pobre, rompeu todos os círculos da exclusão para sacudir o insensível mundo dos “incluídos”, com palavras fortes, enraizadas nas duras experiências do cotidiano das vidas marginalizadas. Assim, de forma espontânea, no improviso mesmo, nasceu o “embaixador das ruas”.

Alcançar o sucesso nessas condições exige esforço sobrecomum. Talento, inspiração e vontade de vencer não bastam. É preciso fazer escolhas certas. O próprio Emicida encontrou o “céu” e o “inferno” nas ruas das comunidades. Poderia transitar facilmente pelo atrativo caminho da revolta. Nortearia sua trajetória pelas drogas, tráfico e violência. No entanto, optou por seguir uma rota diferente, fazendo da fé e da esperança “o seu oxigênio”, a ponto de ser reconhecido como o “porta-voz dos excluídos da periferia”.

Fonte: imagesCACW7HLT

Resolvi trazer aqui algumas impressões da entrevista por encontrar nela um bom exemplo para estes nossos dias conturbados. As condições de nascimento não impedem ninguém de projetar a vida por meio de perspectivas superiores, de se tornar grande mesmo estando cercado por gigantescas montanhas de limitações. Quem quiser, pode conferi a entrevista no blog http://www.emicida.com/blog. Vale a pena!

quarta-feira, 21 de março de 2012

DISCURSOS DESCOMPROMISSADOS


             A mobilização dos Profissionais de Educação novamente reforça o debate em torno dos índices educacionais do país. Na pauta central, a remuneração dos professores soma-se a uma gama bem maior de reivindicações, resumindo-se num forte brado para a Educação ser tratada de fato como prioridade nas políticas governamentais. 

          Os Educadores buscam a concretização dos discursos. Virou senso comum nas manifestações oficiais reconhecer a importância da Educação. Principalmente quando se está diante de solenidades ou inaugurações em algum estabelecimento de ensino. Em ano eleitoral, a conversa afunda-se ainda mais em elogios ao bom desempenho dos professores, mascara a realidade com pequenas ações e suaviza os descontentamentos com novas promessas.

Na prática, observa-se a falta de compromisso efetivo em garantir a Educação de qualidade aos alunos. As condições de funcionamento das escolas públicas Brasil afora testemunham o descaso generalizado. A preocupação é garantir as vagas. Se as carteiras estão ocupadas e na frente da sala encontra-se o/a professor/a, para as autoridades governamentais, está tudo funcionando muito bem. As condições reais para se concretizar o processo ensino-aprendizagem de maneira eficaz, não entram em questão.

As “novidades” não passam da implantação dos laboratórios de informática e de outros instrumentos tecnológicos, já bastante defasados diante dos modernos meios de acesso à informação on-line. Em muitos casos, os computadores estão amontoados, sem uso por falta de manutenção. É comum encontrar escolas com problemas de conexão ou com internet de baixa velocidade. Na realização de pesquisas, professores e alunos desperdiçam tempo precioso para acessar as páginas ou baixar arquivos.

Essa situação precária encontra reflexo na falta de reconhecimento profissional. O estabelecimento do piso nacional da educação, valor mínimo (mínimo mesmo!) para um profissional com nível superior, de R$ 1.451,00, a ser implantado em todo o país, ainda não chega a muitos bolsos educadores. Para observar o descaso com o magistério, basta olhar para o nosso município. Nos últimos anos houve corte das gratificações dos Professores do CNS, corte do quinquênio, pagamento pela metade aos professores com dobra de padrão. Dessa maneira, como falar em Educação de qualidade?

sexta-feira, 9 de março de 2012

FALTA MUITO


Todos os anos, por ocasião do Dia Internacional da Mulher (08/03), manifestações nos mais diversos países exaltam a grandiosidade da alma feminina. O reconhecimento é bastante oportuno, embora não consiga resgatar a dívida acumulada, em termos de respeito à dignidade da mulher, ao longo da marcha evolutiva da nossa civilização.
Ao olharmos apenas a situação da mulher brasileira, resultado da herança histórica de preconceitos e injustiças dos conquistadores europeus, logo percebemos o quanto estamos longe de alcançar a igualdade de condições. Mesmo com os avanços significativos conquistados pelos movimentos emancipatórios, as dificuldades continuam sendo maiores para o acesso e para a evolução nas carreiras profissionais femininas, com a consequente remuneração inferior, comparada à média salarial paga aos homens, nos mesmos cargos.
Fonte: imagesCA0IDZJQ
A ascensão da primeira mulher ao cargo de Presidente da República pode até diminuir, porém não elimina os efeitos perversos dos mais de quatro séculos de ausência da figura feminina nas urnas. A composição das casas legislativas, nas três esferas de governo, demonstra a baixa influência da mulher nas decisões e na edição das leis. Do Congresso Nacional às Câmaras Municipais, a desproporção entre as bancadas denuncia a enorme distância a ser percorrida pela mulher para se aproximar, de fato, do papel de protagonista no cenário político nacional.
A legislação eleitoral apresenta um esboço para equilibrar as forças políticas ao garantir pelo menos 30% das vagas a candidaturas do sexo oposto. Um passo significativo, sem dúvida. Entretanto, na prática não produz a eficácia desejada. São raros os partidos com número suficiente de mulheres para participar das eleições. Resultado: chapas incompletas, destacando-se o registro de poucas corajosas e valorosas candidatas.
Fonte: imagesCANHNW10
              Em outras áreas da administração pública ou do setor privado, a mulher conquistou maior espaço, seja pela aprovação em concursos ou por sua notória e peculiar capacidade técnica. Mesmo assim, enquanto os destinos da sociedade forem decididos majoritariamente pela ótica masculina, as belas mensagens expressas no dia das mulheres serão sempre incompletas. Além das felicitações, é preciso apoiá-las na conquista de mais cadeiras nos poderes da nossa, ainda, masculinizada República!

sexta-feira, 2 de março de 2012

RESGATE

                        No fim de semana (17-19/02), tive a oportunidade de revisitar os tempos antigos ao acompanhar a grande tropeada promovida pela Associação dos Tropeiros de Pinhão. Foi um evento digno de registro em espaço privilegiado da nossa memória, entre as lembranças mais importantes, inesquecíveis.
Chegada dos Tropeiros: mais de 50 Km no resgate dos tempos antigos.

A comitiva foi reforçada por alguns cavaleiros de Reserva do Iguaçu, representada pelos amigos da Família Machado. Só pelo percurso, pode-se, no mínimo, destacar os participantes no rol dos homens e das mulheres mais corajosos e determinados. Foram mais de 50 Km até o distrito do Pinhalzinho, no resgate das trilhas do passado. Estrada acidentada, serras intermináveis, cascalho solto, além de muita poeira sob o fervilhante sol destes dias destemperados.
Bóia bem campeira!
Chimarrão e muito causo animado.
               O trajeto foi dividido em duas etapas. No primeiro dia, o grupo fez uma parada para pouso no Pimpão. Foi recepcionado na propriedade do Giovane Brolini, filho do saudoso Darci Brolini, um dos nossos mais brilhantes lideres políticos, grande incentivador do tradicionalismo e da valorização das raízes culturais pinhãoenses. O ambiente nativo, a comida típica, o povo animado, a sanfona chorosa, o canto do galisé, a tropa no pasto, a negritude mágica da noite enfeitada de estrelas, tudo ali nos transportava à valorosa época dos antepassados.
Giovane Broline e famíla recepcionam gentilmente os tropeiros.

João Paulo e Péricles (Péke), talento pinhãoense no comando da animação.

               Sábado cedo, a tropeada rumou para o destino final. No Pinhalzinho, foi gentilmente recebida pelo Seu Lauro Glovaski e família, num recanto recoberto pelas mais preciosas dádivas da natureza. Lá, a festa foi conduzida por incontável animação, com direito a churrasco de primeira, recheando o consistente cardápio da roça. Os tropeiros reuniram-se aos laçadores e tradicionalistas num disputado rodeio. Na pista, entre um lance de laço e outro, a reconstrução das jornadas dos boiadeiros na lidas da vida. Mais tarde, o bailão chacoalhou a noite campeira!
Viradiando logo cedo pra aguentar a peleia!
Seu Lauro, seu filho Laercio e toda a famíla Glovaski: calorosa recepção aos tropeiros.
               No arremate e no retorno da festança, o povo subiu a Serra do Pimpão com o coração mais leve, após ter reatado algumas pontas do nosso passado, ao reconstituir a caminhada das antigas gerações. No silêncio encantador daquelas matas, é possível encontrar o testemunho do tropeiro conduzindo junto com a tropa o progresso do nosso chão.
Desfile dos tropeiros.

Hêra boi!